segunda-feira, 15 de outubro de 2012

A homogeneização partidária e a grande vitória do coeficiente eleitoral em Sarandi.


           As perguntas que não querem calar: A população consegue entender o que levou o segundo vereador mais votado de Sarandi a não ter direito a uma cadeira dentro da câmara? Caso soubessem disso, como agiriam diante desta possibilidade? A população sabe o que é coeficiente eleitoral? A população sabe o significado das siglas partidárias que escolheram para representar sua cidade? A população sabe que os partidos foram construídos historicamente dentro de uma sociedade com os imperativos da luta de classe e da ideologia burguesa? Sabem quais as filosofias que baseiam e norteiam cada partido? A população sabe que a ideia principal de tudo isso, é justamente que ignorem estes detalhes importantes da eleição? Afinal de contas, quem são as pessoas que constituem esta população? Como esta população enxerga o mundo? Como enxergam a política? Como se relacionam com os fenômenos sociais?
As inquietações diante do óbvio e da falta de respostas deveriam ser latentes em cada ser existente dentro da sociedade, no entanto o que temos é uma série de instrumentos ideológicos para a manutenção deste modelo de sociedade que concede a outras gerações a responsabilidade de transformar o mundo.
Não há transformação, quando nos deparamos com leituras longas e difíceis preteridas em detrimento da indústria do consumo e do entretenimento. Prometi a mim mesmo que não mais desenvolveria textos almejando esclarecer dentro do raio de alcance algumas poucas mentes obscuras e já tomadas pelas ideias hegemônicas burguesas. Contudo, mesmo sabendo que poucos terão a capacidade de fazer as abstrações necessárias para compreender o meu desatino literário sobre o processo eleitoral do ultimo dia 7 de outubro e a respeito de todo o contexto que o permeia, me sinto no dever de mais uma vez tentar explicar esse disparate social.
O primeiro ponto a ser destacado é o de compreender o porquê as pessoas ao seu redor estão descontentes com os resultados da eleição, se foram estas pessoas que com seus votos teoricamente elegeram este quadro. Afinal de contas, onde se encontram as pessoas que construíram esse panorama eleitoral? Uma cidade com mais de 80 mil habitantes, com um eleitorado de 59.410 apurados pelo TSE, com quase 4 mil entre votos brancos e nulos? Quais são os instrumentos que estão faltando para que tenhamos clareza sobre o panorama que vem sendo construído na política nacional? Internet? Educação? Informação? Mas como esses instrumentos seriam utilizados se eles fossem de acesso a todos? Tenho sérias duvidas quanto as justificativas a respeito do caos em que nos encontramos neste episódio grotesco das eleições municipais, principalmente as eleições de Sarandi.  Talvez seja um equivoco responsabilizar a falta de acesso às informações, por que informações são dúbias, são passiveis de interpretação, e podem ser utilizadas ao bel prazer de quem as toma posse. O que realmente pode definir como serão utilizadas estas informações é o esclarecimento, a posse dos conhecimentos burgueses, para então participar das eleições de um modo disposto a transformar.

Ocorre que, na medida em que eles começam a participar, as contradições de interesses que estavam submersas sob aquele objetivo comum vêm à tona e fazem submergir o comum; o que sobressai, agora, é a contradição de interesses, ou seja, o proletariado, o operariado, as camadas dominadas, na medida em que participavam das eleições, não votavam bem, segundo a perspectiva das camadas dominantes quer dizer, não escolhiam os melhores; a burguesia acreditava que o povo instruído iria escolher os melhores governantes. Mas o povo instruído não estava escolhendo os melhores. Observe-se que não escolhiam os melhores do ponto de vista dominante” (Saviani, 2000).

A participação popular deve ser então sabotada de modo que ela não compreenda essa ação. Para Saviani (2000) o significado político, basicamente, é o seguinte: é que quando a burguesia acenava com a escola para todos (é por isso que era instrumento de hegemonia), ela estava num período capaz de expressar os seus interesses abarcando também os interesses das demais classes. Nesse sentido advogar escola para todos correspondia ao interesse da burguesia, porque era importante uma ordem democrática consolidada e, correspondia também ao interesse do operariado, do proletariado, porque para eles era importante participar do processo político, participar das decisões.  "Ora, então essa escola não está funcionando bem" foi o raciocínio das elites, das camadas dominantes; e se essa escola não está funcionando bem, é preciso reformar a escola. Não basta a quantidade, não adianta dar escola para todo mundo desse jeito. E surgiu a Escola Nova, que tornou possível, ao mesmo tempo, o aprimoramento do ensino destinado às elites e o rebaixamento do nível de ensino destinado às camadas populares. É nesse sentido que a hegemonia pôde ser recomposta. Sobre isso, haveria coisas interessantíssimas para a gente discutir em relação ao que está ocorrendo no Brasil, hoje; a contradição da política educacional atual, em que a proposta de base, referente ao ensino fundamentai, é, a meu modo de ver, populista, e a proposta de cúpula, em relação à pós-graduação, é elitista.
         Assim, chegamos ao segundo ponto, a hegemonia burguesa que tem como principal objetivo disseminar a ideia de que não existe desigualdade ou diferenças entre as classes. Desse modo, transfere a igualdade para educação, para saúde, para justiça, e ao modo de pensar que se torna equivalente dentre a massa popular. Concomitantemente, a massa visualiza coisas importantes como as filosofias partidárias como desimportantes, como se fossem tudo a mesma coisa, como se tivessem os mesmos significados. Hoje é frequente entre a opinião popular ouvirmos coisas do tipo “eu não voto em partido”, “eu voto na pessoa”, pois bem, a pessoa em que você vota não esta descolada de um partido, ela é filiada a um partido e subentende-se que ela acredita na filosofia deste, bem como, representa os interesses do partido dentro do poder político. Diante disso, se não há compreensão do que significa cada sigla partidária, e o que cada um deles defende, estaremos alheios aos verdadeiros interesses da tomada de poder em nossos municípios. O que temos atualmente é uma extensão histórica da calhordice humana, que para assumir o poder, ou mantê-lo, é capaz de disseminar ignorância, e falsas informações a fim de manipular a opinião popular. A opinião popular manipulada, também é confundida pela quantidade de informações, e não consegue discernir entre falsas e verdadeiras, relembrando que o povo não aprendeu a buscar as informações por conta própria, são passivos, e aguardam que as informações caiam em suas mãos sem qualquer trabalho. Por isso, acreditam na primeira mentira que ouvem.
No Brasil criou-se uma cultura no mínimo estranha chamada coligação partidária. Na disputa pelo poder vale tudo, até mesmo a união de ideias extremamente opostas com o mesmo objetivo: conseguir votos dos eleitores desinformados. Mas qual o objetivo de montar coligações homéricas para disputa das eleições? Antes de qualquer afirmação sobre as ideologias partidárias, faz-se necessário observar uma lista dos partidos ativos no país. 
 

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