segunda-feira, 27 de junho de 2011

Ética da atividade empresarial - João Baptista Herkenhoff

Bertolt Brecht, na sua famosa peça “Ópera dos três vinténs”, coloca o dilema: prender o ladrão do banco ou o dono do banco?Essa frase é um libelo contra o banqueiro porque, à face do banqueiro, Brecht coloca a dúvida: quem é mais ladrão – o ladrão do banco ou o próprio dono do banco?Todos os bancos, a própria atividade bancária merece o anátema fulminante de Bertolt Brecht?É possível haver ética na atividade bancária?Ou ampliando a indagação: as empresas em geral podem ser éticas? A atividade empresarial, por si mesma, nega a Ética? 
As empresas têm como um dos seus objetivos o lucro. O lucro pode ser ético?Comecemos pela pesquisa etimológica.
Lucro tem origem no latim “lucru”, que significa logro.Logro quer dizer "artifício para iludir e burlar; trapaça, fraude, cilada". 
Neste caso, o lucro é um logro, um artifício para burlar, o lucro é uma trapaça.Se o lucro é uma trapaça, o objetivo de uma empresa é trapacear.
Através deste encadeamento de frases estamos construindo um silogismo ou um sofisma.
A meu ver, se não fizermos ressalvas, estamos incorrendo num sofisma. 
Não me parece que a atividade empresarial, por sua própria natureza, negue a Ética. Mesmo a atividade bancária, aquela que lida diretamente com o dinheiro, mesmo essa atividade não me soa, antecipadamente e acima de qualquer consideração, uma atividade que contraria a Ética. 
Parece-me, não apenas possível, mas absolutamente necessário, que as empresas subordinem-se à Ética.
Pobre país será aquele em que a atividade empresarial estiver descomprometida com a Ética. 
Muitas empresas, muitos empresários desconhecem o que seja Ética, não têm o mínimo interesse em que suas atividades orientem-se por uma linha ética. 
Mas me parece injusto lançar este juízo de condenação contra todas as empresas.
Se algumas empresas dão as costas para a Ética, muitas outras optam por uma linha oposta: fazem da Ética um mandamento. 
Vamos então ao miolo desta página. 
Quais são os requisitos para que uma empresa mereça o título de empresa ética?
Como fruto de uma profunda reflexão, que me acompanha de longa data, proponho doze condições que me parecem devam ser exigidas para que uma empresa conquiste o galardão ético: 
1 – que a empresa saiba respeitar e valorizar seus empregados, tratando-os com dignidade, justiça, proporcionando a eles oportunidade de crescimento, entendendo que os empregados são colaboradores, e não subordinados e serviçais; 
2 – que a empresa saiba valorizar e respeitar seus dirigentes, gerentes, ocupantes de cargos de chefia, confiando e enaltecendo seu esforço;
3 – que as chefias exerçam seu papel democraticamente, com delicadeza, e não de forma autoritária; que os chefes saibam elogiar e estimular os auxiliares; que emitam instruções operacionais claras e de fácil compreensão; que compreendam que o diálogo favorece um ambiente feliz na empresa, fator que contribui até mesmo para maior produtividade; que diretores e chefes entendam que direção e chefia são missões, e não privilégios, pois, em última análise, todos somos credores de consideração e compreensão; 
4 – que o empregado, a que se atribui alguma falta, tenha sempre o direito de se explicar e de se defender; 
5 – que a empresa crie e mantenha canais de comunicação dos empregados com as chefias, de modo que os empregados possam apresentar postulações, reclamar, sugerir;
6 – que a empresa saiba respeitar o meio ambiente repudiando toda e qualquer agressão ambiental; 
7 – que a empresa não sonegue impostos mas, pelo contrário, compreenda que pagar impostos é uma obrigação social, pois só através da coleta dos impostos pode o Estado cumprir seus deveres para com o povo; 
8 – que a empresa saiba exigir do Poder Público a utilização correta dos impostos para que o erário sirva ao bem comum;
9 – que a empresa rejeite qualquer forma direta ou indireta de corromper funcionários, agentes de autoridade ou dirigentes politicos com a finalidade de desviá-los de seus deveres para proveito da empresa; 
10 – que a empresa respeite a privacidade do empregado, pois a privacidade é sagrada; que jamais um empregado seja repreendido em público e de forma a ser humilhado; 
11 – que a empresa respeite os direitos do consumidor, que esteja sempre pronta para atender reclamações decorrentes de mau serviço ou defeitos em mercadorias e que as falhas encontradas sejam prontamente reconhecidas e corrigidas;
12 – que a empresa, como um todo, englobando empresários, dirigentes, trabalhadores, sinta-se parte de alguma coisa que é superior à empresa: a Pátria, a comunhão nacional, o sentimento de que todos fazemos parte de uma sinfonia universal, de uma caminhada da Civilização e da Cultura, na construção de um mundo melhor.
João Baptista Herkenhoff, 75 anos, é professor da Faculdade Estácio de Sá de Vila Velha (ES), membro da Academia Espírito-Santense de Letras e da União Brasileira de Escritores (UBE). Tem dado palestras sobre Ética em todo o território nacional. Autor do livro Ética para um mundo melhor (Rio, Thex Editora). 

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