Os direitos e as privações cerebrais dos toscos mortais
Senhoras, senhores
Os
direitos humanos e seus defensores, aqueles que sensibilizam com as
injustiças e violências direcionadas a quaisquer pessoas, independente
de índole, de cor, de sexo ou de classe social, estão sendo acusados de
defender os direitos de pessoas que não merecem ter qualquer tipo de
direito, como se direitos fossem uma exclusividade de alguns em
detrimento de outros, por fazerem por si só seus próprios julgamentos,
condenações, sem ao menos se basear em qualquer tipo de fundamento ou
fato concreto.
Os
direitos humanos são auto-explicativos, e tratam em sua essência de
proteger a integridade e a dignidade humana, de homens e mulheres que
muitas vezes estão submetidos aos acasos e descasos de uma sociedade
cada vez mais desigual e pro genitora de sua própria violência e
banalização da morte. Em uma sociedade organizada de modo hierárquico e
desigual, o poder econômico e seus proprietários aniquilam as
possibilidades de transformação social, e mantém um ciclo vicioso de
gerações violentas, sem os privilégios da educação e da sensibilidade,
que se perde logo nas infâncias roubadas pelas famílias desestruturadas,
somadas a falta de estrutura na organização social, onde a justiça se
faz cega, e se diz neutra as injustiças contra os mais fracos, e faz
vista grossa aos que podem pagar bem por isso.
O
cenário em que se encontra a cadeia de Sarandi nos revela de modo
escancarado como esta instituição publica reflete toda a falta de
educação de uma geração, e toda a truculência de uma infância. Um
ambiente nenhum um pouco familiar, pouco acolhedor já por si só, conta
ainda com o pouco caso com relação aos direitos que deveriam ser
garantidos por serem os presos, apenas humanos. O tratamento com a
comunidade que se vê perante uma situação desconfortável como ter alguém
de sua família lá dentro, muitas vezes não difere muito do tratamento
dado aos próprios presos, que condenados ou não, recebem uma truculência
exacerbada, que de humano com certeza, não tem nada. Desagrada-me
presenciar o sofrimento daqueles que já nasceram sofrendo por não terem
os direitos a desfrutarem de suas dignidades desde a tenra infância, que
tiveram como escolhas as mais diversas, desde o caminho das drogas, da
violência, até os trabalhos mais indignos e mais humilhantes que restam
aqueles que não se beneficiam de uma boa educação e de espaço dentro da
sociedade.
Me
inquieta a sociedade abominar tanto os crimes e a violência, e ser
indiferente e impiedosa com quem esta pagando pelos seus crimes. Que
fique claro, pagar pelos crimes, quando se trata de prisão, tem a ver
somente com a privação da liberdade, não tem a ver com privação dos
direitos humanos, como a higiene, a alimentação, a convivência com os
familiares, o direito a aprender uma profissão, e se recuperar com
intuito de um dia reingressar na sociedade, com mais possibilidades e
sensibilidade, sem falar de dignidade para que assim possam seguir em
frente tentando mais uma vez lhe dar com as injustiças arraigadas a este
modelo social vigente.
No
entanto o que temos na cadeia de Sarandi diverge completamente daquilo
que supostamente deveria estar acontecendo. A super lotação, a falta de
um espaço propicio para se manter o mínimo de higiene, as refeições mal
cheirosas, a ociosidade, a propagação de doenças contagiosas como o caso
atual da tuberculose, que causam aflição nos familiares, por diversas
questões, entre ela a proibição de visitas, intensificando o sofrimento
de quem se encontra encarcerado, sem chances de um contato, o que também
me parece um direito que deveria se garantido, mas não é. Os dias de
levar comida aos presos que eram dois, foram encurtados para um dia, a
truculência com os familiares ainda valem por dois dias, o que não
poderia ser justificado pelas péssimas condições de trabalho as quais
estão submetidos os funcionários da delegacia, afinal de contas, nesse
ciclo vicioso a ponta que se arrebenta é justamente a do lado dos que se
encontram em situação desfavorável.
Pagam
os presos, pagam seus familiares, e paga a sociedade que não percebe
que os problemas estão sendo resolvidos de trás para frente. Até quando
vamos aceitar que seres humanos sejam sujeitados a tais humilhações, e
situações desumanas? Só sensibilizaram quando forem seus entes a mercê
desse descaso? A sociedade precisa de alteridade, bem como a justiça
precisa de responsabilidade, por que neutralidade não existe, a justiça
decide baseada na frieza e na indiferença que se criou com todos os que
já nascem rotulados como marginalizados, ela decide com bases muitas
vezes insustentáveis, mas decidem, por que cabe a ela a decisão, e a
ninguém mais. A sociedade indigna cabe paciência com a burocratização
das vidas e da liberdade, cabe aguardar passivamente, sujeito a
desacatar ou incomodar o poder e acabar como réu de todo este sistema
falido de direitos não levados a sério, que fazem homens e mulheres
chorarem os maus tratos, a indiferença, a ignorância, a brutalidade a
falta de alteridade.
É
necessário se por no lugar do outro, dos possíveis inocentes que
estejam pagando por crimes que não cometeram ou esperando seu
julgamento. Põe-se no lugar da mãe que sofre pelo filho desencaminhado
na sociedade, que além da liberdade, perdeu a dignidade de comer bem, de
dormir bem, de manter-se limpo, que bebe água do chuveiro, que divide
colher com várias pessoas, sujeito a contrair uma doença. Já parou para
pensar como você daria outra importância se tudo isso lhe afetasse
diretamente?
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